segunda-feira, 28 de março de 2011

O DONO DA BOLA


Caldas Novas, Goiás, 1994. Luiz Alberto Ferreira da Silva, 24 anos, era um jogador de futebol de várzea frustrado dos campos carecas da cidade. Ele era um autentico “perna-de-pau”. Porém era figura certa nos jogos do time. 

Luiz jogava muito mal. Errava passes, dava chutes para longe, trombava com os próprios companheiros de time, enfim era ruim de dar dó. Coincidentemente o craque do time de Luiz Alberto, o Lulinha, era seu homônimo. Nem ele nem Lulinha sabiam disso. 

Em um belo dia os jogadores ficaram sabendo que um time grande da capital, faria uma peneira para escolher jogadores e que um olheiro iria a Caldas Novas assistir um jogo para ver se alguém poderia jogar no time dele. 

O olheiro, Vantuil, era velho na arte de escolher bons jogadores e não demorou a chegar à cidade. Fora recepcionado pelo presidente do time de Luiz Alberto, e logo pediu os documentos de todos os jogadores. 

Nosso “craque” ficou esperançoso e acreditava que poderia fazer uma grande partida e mudar sua imagem de perna-de-pau e que, quem sabe, poderia ser contratado pelo time da capital e fazer sucesso. 



Chegou o dia do jogo. O modesto campo estava “lotado”, Vantuil estava devidamente estalado na “tribuna de honra”. O jogo começou. Era um grande “clássico” dos times da região. Luiz Alberto jogou desgraçadamente mal, pior que o habitual, estava nervoso, e por isso estava mais atabalhoado do que de costume. Fez um pênalti e um gol contra. Só não foi um desastre total porque Lulinha arrebentou no jogo, fez três gols e o time venceu o jogo.

Vantuil, satisfeito, foi embora, prometendo telefonar. Pouco tempo depois um dirigente do time da capital telefonou para o presidente do time e disse:
_ Manda o Luiz Alberto agora pra cá!
O presidente:
_ O Luiz Alberto?
O dirigente:
-É!
Sem entender nada o presidente do time foi dar a notícia ao Luiz Alberto, não o Lulinha, cujo presidente nem sabia o nome de verdade, e que foi o escolhido pelo Vantuil, mas ao nosso “grande” jogador. 


Quando soube da notícia o pereba de plantão não cabia em si de felicidade. Esbravejava aos quatro ventos que alguém finalmente havia reconhecido seu talento e partiu rumo a capital. Chegando lá soube de uma triste notícia, Vantuil fora vítima de um ataque fulminante do coração e não resistiu. Mas todos no clube logo tranquilizaram Luiz Alberto dizendo que o olheiro havia falado maravilhas a seu respeito e que ninguém duvidaria de seu futebol. Todos diziam: “Vantuil nunca erra”. 

Luiz Alberto mal treinou porque o time estava de luto pela morte de Vantuil. Ele só fez exercícios físicos junto com seu novo time. Nesse pequeno período de tempo era tratado com status de craque. Sua estréia estava marcada para domingo justamente no maior clássico do estado. O técnico do time perguntou se havia problema de Luiz Alberto jogar sem estar entrosado com os companheiros. Ele disse que não havia problema. Deram-lhe a camisa dez. 

O dia do jogo chegou, o estádio Serra Dourada estava lotado, câmeras de TV espalhadas, repórteres ávidos por entrevistar o craque que vinha do interior diretamente para o clássico de maior repercussão da região, pompa, grandiosidade... 



Luiz Alberto deu várias entrevistas antes do jogo. Prometeu gols, passes decisivos, disse que “daria show”. O jogo começou e noventa minutos depois terminou com o placar de 6X0 para o outro time. Luiz Alberto fez dois pênaltis, dois gols contras, errou passes bisonhamente, enfim, foi um fiasco. Os torcedores mais exaltados da arquibancada gritavam:
_ Vantuil que você arda no inferno seu desgraçado! E vê se leva esse m.... com você!

Hoje Luiz Alberto trabalha como roupeiro de um time da 4ª divisão de Goiás, mas sempre se lembra do seu dia de super estrela.     

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