quarta-feira, 30 de março de 2011

A METAMORFOSE POR FRANCISCO EVERARDO


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Agreste de Pernambuco. Francisco Everardo, 56 anos, era um morador do sertão pernambucano, tinha quatorze filhos (nove ainda moravam com ele), e era viúvo há seis anos. 

Após mais um dia árduo de trabalho, Francisco deitou-se em sua rede e dormiu, como sempre. Porém no outro dia, quando acordou, Everardo teve uma grande surpresa. Estava atrás de uma pedra há alguns metros de sua casa. Sentiu-se diferente, seu corpo agora era verde, tinha calda, quatro patas, e um pequeno coração - que batia apressadamente com a descoberta que não era mais um homem - havia se transformado num calango. Só não entendia como aquilo aconteceu. No final Francisco acreditou que aquilo era uma “visagem” de quem estava há muito tempo sem comer. Sua barriga de calango roncava igual à barriga dele homem. Mas estranhamente ao avistar um inseto, destes típicos do nordeste, foi acometido por uma vontade incontrolável de comê-lo, e instintivamente o fez em uma “linguada” só. Ele lagarto tinha o que comer. 

Com o inseto em sua barriga, o nordestino sentiu um misto de satisfação e nojo. Seu lado calango estava satisfeito por ter enchido a barriga, contudo seu lado homem estava enojado, afinal acabara de comer um inseto. 

Tudo aquilo era extremamente esquisito para ele. Atônito, Francisco tentava entender o que aconteceu, quando quase foi atropelado pelo seu filho mais velho, Cícero, que chegava de carroça. Logo pensou que Cícero perguntaria por ele, e que, como dariam sua falacomo dariam falataele quase foi atropelo pelo seu filho mais velho, Cum insetoe quando detava , ta, passariam a procurá-lo. Nada disso aconteceu, Cícero foi até sua cisterna, pegou um resto de água barrenta que sobrara e foi embora, sem nem ao menos perguntar por ele. Lamentou muito, mas ainda acreditou que uma hora dariam de sua falta. 

Até que sentiu uma pedra que passou a centímetros de sua cabeça. Ela foi atirada por Nazinho, filho caçula de Everardo. Nazinho gritava para os irmãos que pegaria o calango para comê-lo frito e começou a caçar seu próprio pai. Francisco corria e parava, olhando para ele como que querendo dizer quem era, que estava preso em um corpo de calango, mas o menino, afoito por ter algo de comer nem se atentava a nada, somente a sua caça. Vendo que não havia jeito, o nordestino correu e se escondeu em uma fresta de uma pedra despistando o menino. 

Depois de tudo mais calmo Francisco voltou a casa e disfarçadamente observou seus filhos no andamento normal de suas vidas. E percebeu que, até o final do dia ninguém sentiu sua falta. Ele viu que não tinha importância ali e voltou decepcionado para as pedras onde ficara. Chegando lá ele deparou-se com outro calango, aliás, uma “calanga”. Ele olhou assustado. Ela disse para que ele tivesse calma. Eles se comunicavam sem problema. A lagarto perguntou como ele veio parar ali. Já um pouco mais calmo, contou sua história, dizendo que era um homem, tinha filhos, era viúvo... Ela o interrompeu para dizer que também era viúva, pois um dos meninos dali de perto matou seu marido para comê-lo. A lagarto estava acompanhada de outros três lagartinhos. Francisco perguntou como era a vida dela e ela respondeu que era boa, pois tinha comida à vontade, porque insetos era o que não faltava, e que água havia bastante, pois gotas eram suficientes para eles. Ela disse ainda que a convivência entre todos os calangos era boa e que tinha uma família feliz e unida. Só lamentou a ausência de um companheiro desde a morte de seu marido. E que a presença dele ali era confortante para todos, arrematando dizendo que se ele quisesse ficar que seria muito bem vindo. 

Francisco aproveitou e perguntou se havia acontecido algo semelhante ao caso dele, e ela, apesar de querer o contrário, lamentou dizendo que sim, e que no final da noite o calango voltara a ser homem quando assim o desejava de coração. Everardo se confortou com a notícia em um primeiro momento. A noite foi passando e todos dormiram. No outro dia ao acordar ela se assustou ao ver Francisco ainda como lagarto e perguntou:
_ Você não mudou? O que aconteceu?
E ele respondeu:
_ Pensei durante toda noite e vi que não queria mudar, percebi que, como calango, encontrei outros que gostam de mim, me respeitam e sentem minha falta, posso ter uma família se assim você aceitar, enfim...
_ BOA É VIDA DE CALANGO!!!             

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