quinta-feira, 30 de agosto de 2012

MELHOR NÃO CHEIRAR NADA!


A polêmica desta semana foi uma foto publicada pelo pastor (?) Lucinho em que ele "cheira" uma bíblia, em alusão clara ao consumo de cocaína. A alusão, acredito eu, seria que a bíblia traria prazeres e recompensas melhores (ou iguais?) ao uso da droga. Com boa intenção, ou não, a foto é de uma idiotice sem fim e só serviu para municiar os "anti crentes futebol clube".

Se o intuito era atrair alguém com essa foto o tal Lucinho mandou uma bola fora, mas bem fora mesmo! O que ele conseguiu foi uma enxurrada dessas fotos, aos montes, às pencas, nas redes sociais, todas, claro, criticando (com razão) a, possível, alienação dos evangélicos.

Contudo, pouco importa se uma só pessoa fez tal postagem, logo, para os anti-evangélicos,  chamemo-os assim, todos -sem exceção - religiosos são ignorantes, alienados, despreparados, e incultos.


A frase "a religião é o ópio do povo" voltou à voga em instantes, claro, amparada pela infeliz foto. Pois digo: O que é o ópio do povo é a ignorância! Sem senso crítico um povo é dominado pela religião, pela política, pelo esporte, pelo poder financeiro, intelectual ou bélico, tanto faz.

Sem cultura um povo aceita e assiste a tudo pacificamente, o que, infelizmente, tem sido "seguido" por grande parte dos brasileiros, sejam eles evangélicos, católicos, umbandistas, budistas, agnósticos ou ateus.  

O tal Lucinho (vídeo abaixo) tentou justificar a foto. Foi um fiasco! Agora se sabe porque ele posta esse tipo de coisa na internet. "Já fiz várias loucuras pela bíblia e, essa (da foto), foi a menor". Não meu caro, isso não foi loucura, foi burrice mesmo!



Não quero levantar bandeira e respeito infinitamente cada um que em algum momento expressou-se sobre o caso, seja de qualquer forma/opinião. Portanto, respeitem-me também, por favor!

Não sou evangélico, mas sou humano. E detesto que deleguem nossos erros a nichos específicos.

Vamos estudar muito! Para não precisarmos cheirar nada no futuro, nem cocaína e nem bíblia.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

A GRAÇA DO HUMANO


Que graça teriam os humanos se não o fossem?

A graça do humano é errar. É esperar que a outra pessoa mude. E é perceber que nada mudou. A graça do humano é saber reconhecer que errou, modificar, voltar atrás. A graça é dizer "nunca mais", mas, depois, voltar.

A graça do humano é fazer bobagem. É saber perdoar. Há graça também em que não admite seus pecados, e é, sim, graça humana pecar. A graça do humano é saber se erguer. É saber se reerguer. É admitir que precisa de ajuda.

A graça do humano é perceber que tem menos amigos que esperava. E é também saber que os poucos de verdade, são de verdade mesmo. A graça do humano é ser fresco, ou ser taxado de fresco quando não é. 

A graça do humano é ser meio louco. É ser meio são. E é ser meio tudo. A graça é esnobar o amor e correr atrás quando o outro não te quer mais. A graça do humano é lutar em seu dia a dia. É batalhar pelo pão mesmo que isso afete sua vida.

Há graça no humano que não tem tempo, mas há mais graça quando se tem. A graça do humano é saber interagir. É se pegar amando aquilo que nunca imaginou que amaria. A graça do humano é sentir falta daquilo que odiava. A graça do humano é sentir falta do passado.

A graça de ser humano é ser humano. Que bom ser inexato, inconstante, e imprevisível! Que bom é ser humano. Ser humano!

Afinal que graça teriam os humanos se não o fossem?

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

FLERTE FATAL



Flerte fatal

Nimbos cinzas a permearem minha cabeça. Oh incertezas!
Quando já não te via alva em meus sonhos mais tenros.
Caminhei por dentre tudo que temia, e tremi.
Eu não queria, mas padeci.  Eu já não te via. Nem alva, nem gris.

Morte, morte, tão clara morte.
És minha parceira de leito que não caso.
Passas por meu caminho e não faço.
Desposa-me por noivo e não caso.

Definho-me em leitos infinitos. Em amores não cumpridos. Em pecados...
Pequei por medo de ter medo. Medrei quando te vi a priore.
Piorei quando senti sua falta e me puni por senti-la
Paradoxiei cada laço que tive contigo oh alva morte! Morte, morte tão cara!

Fechei meus olhos no afã de me vilipendiar.
Cadê o ódio que devia sentir. Não posso resignar-me, não ainda.
E que a finda, oras, me conheço.
Te perdoei antes da morte, te inocentei do suicídio iniciado.

Morte, morte, doce morte. Sentir teu cheiro me acalma.
É um agridoce sabor de bálsamo acrescentado de coisa ruim.
Mistura de vida toda com nada feito. Dor no peito.
Queria que poesias me salvassem...

Do salgado mar que me acompanha, que me molha nas manhãs.
Que me faz sentir frio na tarde e que a noite me abandona.
Eu já disse que queria te ver mais alva, talvez mais calma.
E que temo não te temer. Queria tremer, mas só choro.

 O gosto da lágrima é bom, me faz sentir dor e isso me anima.
Mataria a morte se soubesse como. Queria refletir, mas minha reflexão acabou.
Vou, vou, acho que agora vou. Tão alva que tu és!
Nem sei se estou pronto para ser infinito, mas estou pronto para findar.

Morte, morte, parceira morte.
Não me cansarei de falar, queria-te alva, talvez mais branda. Eu já disse!
Oh câncer maldito! Cão! Patife! Que não me deixa escolha. É fim de flerte.
É fim de dor, é fim de dor... Morte, morte, desgraçada morte prazer em conhecê-la.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

"CREPUSCO"



“CREPUSCO”

Já ia dar meio-dia naquele dia de sol escaldante do interior nordestino. Josefa, cujo apelido não se sabe porque era Billa, vinha carregando em sua cabeça um balde d´água junto a seus quatorze irmãos no caminho de volta à sua casa.

Zefa, ou melhor, Billa, não era a mais bonita, nem a mais inteligente, e não era a mais popular na sua escola. Seus outros quatorze irmãos faziam mais sucesso na escolhinha de mainha Severina que ficava no quintal atrás da casa dos irmãos.

Tudo transcorria como habitualmente na vida de Billa até que ela teve a visão: Era ele! O calango mais bonito, charmoso e branco luminoso como água com barro daquela região. Ela o viu, de longe, montado em seu jegue. Apesar da distância, podia ver seu cabelo mais encrespado que a mata mais densa, os olhos mais amarelos que o milho e os dentes mais inexistentes do que a comida na dispensa de sua casa. Era ele!

Ele também a viu. Os olhos entreolharam-se por segundos, tempo suficiente para gerar o amor mais infinito que o sertão podia sentir. O rapaz mudou sua direção. Guiou o jegue para próximo de Billa que tremeu por dentro de emoção. Depois percebeu que era fome. Mordiscou um cacto e continuou a espreitá-lo.

Estranhando a demora, os outros quinze irmãos, neste ínterim a mãe teve mais um, saíram a sua procura. Todos viram o rapaz. Criou-se um afã. As seis meninas e Juarí, que diziam ser meio afeminado o danado, ficaram alvoroçados.

Percebendo ter a concorrência das irmãs, Billa tratou de desanimar, afinal era a mais desinteressante e despopular da escola.  Ainda assim ele continuou olhando-a, sem piscar. Eis que aconteceu um grave problema, o jegue da família de Billa, que estava no cio, assanhou-se com a presença de outro e, desgovernado, partiu pra cima da moça. O rapaz, num átimo de segundo, saltou de seu jegue e jogou-se na frente da menina, colocando seu braço à frente do animal, protegendo-a.

Todos ficaram surpresos com aquilo. Afinal as pessoas sequer tinham forças para sair do jegue quanto mais para segurar um. Billa e o rapaz se entreolharam mais uma vez. Na mesma velocidade em que a salvou, o rapaz, preocupado com a atenção que chamou, foi embora.

A moça passou dias pensando no bravo rapaz até que um dia na escola teve a surpresa. Era ele! O pai do jovem disse que tinha se mudado ali pra perto, coisa de 2 ou 3 horas de jegue, e que queria matricular seu filho na escola mainha Severina. Billa ficou atônita! Era a chance de contar de todo amor. De toda a paixão que ardia em sua entranha... Depois ela descobriu que o ardor também era de fome e comeu um pedaço de barro cozido.

O rapaz, tímido e arredio, se apresentou. Ninguém conseguiu compreender o nome dele. Então teve que soletrar E-D-D-W-A-H-R-D-I-R-S-O-N. “Painho era muito do criativo” disse ela com sua voz tímida que fazia Billa tremer. “Podem me chamar de Ed, é mais fácir” disse ele com seu sotaque estranho que parecia ser lá de Londres – Estado da Bahia.

Billa e Ed começaram a conversar e ele não deu bola para nenhuma das irmãs dela, admitamos que teve um pequeno affair com Juarí, mas foi coisa passageira. Logo Billa e Ed perceberam ter várias coisas em comum: Ambos confundiam tremor de fome e com emoção, ambos tinham vinte e oito perebas na perna e ambos adoravam calango frito com pequi. Eram muitas as coincidências...

Dia após dia a amizade crescia até que Billa decidiu abrir seu coração “estou enrabichada por você Ed”, “Oxe, e eu também por você Billa, mas nosso amor é impossível”, completou ele. Ed sumiu da escola nos dias seguintes, até que Billa decidiu ir atrás dele. Chegando até sua sombria casa de pau a pique ela se assustou com a cor negra da parede. Depois percebeu que não era tinta. Eram morcegos. Muitos. Milhares. Estranhou achar um morcego realmente parecido com Ed.

Venceu o medo e decidiu chamá-lo. Após um tempo Ed apareceu. Ele a pegou nos braços e rumou por chapada à dentro. Sentados numa pedra vendo o luar Ed abriu o jogo “Billa eu sou um vampiro”. “Oxe eu também não tomei vacina quando era criança Ed, também devo estar cheia de doenças...” disse ela esperançosa em que a “doença” de Ed não impedisse infinito amor.

“Não, não, você não entendeu. Vampiro é um ser que foi mordido por um homem morcego e ganha a vida eterna”, “ahhh, esse eu sei. É o Batman né? Eu vi numa revista” disse a ingênua garota. Não tendo mais jeito Ed se revela. Ele mostra os dois dentes de vampiro e o olhar laranja (vermelho + amarelo) para ela.

A moça se assusta e dá um grito. Por instinto ela foge dele, que a persegue querendo explicar do porque daquilo tudo. Ela para. Ele a olha. Marca-se um silêncio que parece a eternidade. A moça se acalma. Eles voltam a se sentar e ela começa um chato interrogatório.

Como você virou vampiro?

Um morcego mordeu uma vaca que me mordeu.

E quanto tempo faz isso? Quantos anos você tem?

Se eu soubesse matemática te diria.

E porque você veio parar aqui?

É porque aqui a água barrenta e menos barrenta do que as de lá do Arraial.

Mas... Se você é muito, muito velho, porque não está viajando lá para fora do país, tipo, Minas Gerais? Porque você não está estudando cartilhas?

Oxe. Você já viu que difícil que é aprender o abc?

Mas... Não é ruim ser vampiro?

Oxe. Né nada. Agora tenho dois dentes para comer rapadura!

E porque você se apaixonou por mim, a menina mais feia e mais sem graça da escola?

Oxe essa é fácil! É porque temos de criar uma estória em que todas as mulheres, bonitas ou feias, se sintam inseridas. As feias acreditam que podem conquistar o príncipe encantado, ou melhor, o vampiro encantado, e as bonitas acham que os bons homens, ou os bons vampiros, valorizam o que a mulher é por dentro e não se ela tem uma bela bunda, por exemplo. Simples né?

Hum...

Mais tranquilo após ter seu segredo revelado Ed e Billa começaram a viver um lindo amor, viajando por todo o sertão, conhecendo todos os rios secos, os meninos com pé inchado e todos os casos de desnutrição infantil existentes. Tudo era muito romântico.

O problema era que Ed não podia sucumbir à tentação de morder o magro pescoço de Billa. Toda vez que olhava para aquele pescoço lembrava-se de pernas de galinha que tanta amava comer e que a muito não fazia, e isso o atormentava.

Não aguentando mais Ed, para evitar morder Billa, preferiu separar-se dela. A moça, desesperada, por várias vezes pedia, quase implorava, para que ele a mordesse, mas ele resistia. “Já que não quer me morder, pelo menos faça sexo comigo” suplicava ela, mas ele se mantinha fiel a seus princípios. “Só farei sexo com você depois que eu fizer 18 anos e podermos nos casar”. “E quantos anos você tem?”. “Papai disse que tenho 17 a 400 anos”.

Triste e desolada a moça voltou a sua árdua rotina longe de seu amor e de suas maiores alegrias, até que um dia viu Jacó. O rapaz era conhecido de longa data de Billa e há algum tempo havia se mudado. Agora estava de volta. E completamente apaixonado por ela. “Nunca me esqueci de suas canelas finas, de seu olhar triste e de seu cabelo seco e queimado pelo sol. Todo o tempo em que passei no Arraial eu só pensava em você...”, “mas Jacó...”, “não Billa, não me diga nada, eu só quero olhar pra você logo após essa maldita tempestade de areia parar de jogar terra no meu olho”...

Billa ficou constrangida em dizer a Jacó que estava apaixonada por Ed e não era todo dia que recebia tantos elogios. Decidiu deixar rolar. Jacó havia voltado diferente. Estava mais forte (aparentava estar pesando uns 30 quilos) e meio esverdeado. Quando perguntado do porque de tantas mudanças, Jacó sempre desconversava. Mas, após muita insistência de Billa, decidiu abrir o jogo.

Olha Billa, é o seguinte, eu sou um calangosomem!

Calango o quê?

Calangosomem. Durante o dia eu sou homem. À noite me transformo em um calango.

Mas... Meu Deus! Como isso foi acontecer?

Eu não sei muito bem... Só sei que eu estava e dormindo e de repente... E cá estou eu agora preso pra sempre nesta maldição.

Mas como é possível um vampiro e um calangosomem se apaixonarem logo por mim?

Oxe. Essa é fácil. É porque toda estória precisa de um antagonista. Fazer um vampiro concorrer com um humano era injusto, logo criou-se um rival tão sobrenatural quanto. Pouco importa a imensa improbabilidade de dois seres sobrenaturais distintos estarem coincidentemente numa cidadezinha do interior do interior e os dois se apaixonarem por uma menina feia e impopular. Meros detalhes... Entendeu?

Após os esclarecimentos Billa estava disposta a abrir seu coração para Jacó entrar quando de repente avistou Ed. “O que você faz aqui?”. “Vi que era inútil lutar contra o nosso amor”. Eis que o calangosomem o interrompe “Hei, calma lá Batgay, foi embora, perdeu! Agora ela é a minha calangosinha!”.

Irritada por aquele impasse Billa saiu em disparada rumo ao sertão do sertão. Jacó e Ed preferiram deixá-la ir para esfriar a cabeça naquele sol de 40 graus e ficaram numa sombra jogando a nova versão de Syms e ouvindo Justin Bieber no I-pod de Ed.

Contudo preocupados com a demora da moça os dois decidiram ir atrás dela, mas já era tarde! A guerra entre vampiros e calangosomens estava prestes a começar e Billa estava bem no meio do fogo cruzado. Quando a viram, vampiros e calangosomens decidiram comê-la viva. Ed e Jacó impediram. Ela pensou “Ed sempre empatando...”.

A sangrenta batalha começou. Ed e Jacó lutavam não só por seu povo, quer dizer, sua raça, quer dizer, sua... (como é que se classifica a “classe” de seres sobrenaturais?), mas também pelo amor de Billa. A moça assistia a tudo atônita. Por fim conseguiu chamar a atenção dos dois rapazes. Disse que se um dos dois saísse morto (ambos já não estavam mortos?) daquela luta que ela também se mataria e, por fim, ninguém ficaria com ela.

Para evitar tal trágico fim, os dois decidiram fugir para bem longe da disputa (o confronto entre calangosomens e vampiros terminou empatado e os dois perderam o título para o Barcelona de Santo Antônio da Purificação), e caberia à moça decidir com quem ficaria.

Uma semana depois Billa, Ed e Jacó se encontraram no Fica Comigo? da MTV onde, após uma série de perguntas e gincanas, a moça decidiu ficar com o vampiro. Nem teve tempo para o calangosomem ficar triste, pois ele logo se apaixonou por uma linda samambaia e eles forem morar lá na Ucrânia.

Billa e Ed voltaram ao sertão e casaram com a benção de Conde Drácula. Na lua de mel Ed disse “amor, é o seguinte... Como sou um vampiro, não tenho sangue correndo nas veias, logo meu, digamos, instrumento, não fica ereto. Mas eu ando com um vibrador aqui, que eu juro que nunca usei, que eu posso te emprestar. Eu chamo ele carinhosamente de Jorjão.”

Ed mordeu Billa que também virou uma vampira. Ela ficou grávida (como?) e logo eles tiveram uma vampirinha que, misteriosamente, crescia (como? – parte 2). E viveram felizes para sempre (até o dia que Juarí foi visitar o cunhado e eles foram flagrados na cama e...).