sábado, 5 de outubro de 2013

CONTO 'A MELHOR ATRIZ DE STATION FALLS'


A MELHOR ATRIZ DE STATION FALLS

‘Tudo pela arte’. Anne Markin era a melhor atriz de Station Falls, uma cidadezinha do interior da Inglaterra. Ser a estrela da cidade lhe bastava e sobrava. Todas as peças patrocinadas pela prefeitura da cidade tinham, como protagonista, Anne. Já havia feito todos os tipos de papéis, desde Lady MacBeth até uma montagem de gosto duvidoso de X Men. Sua carreira ia de vento em popa até a chegada de Alice Carlson, moça recém vinda de Londres, onde havia feito várias peças de teatro, algumas com figuras importantes e renomadas da grande arte.

Alice vinha à cidade para se tratar de problemas de saúde e logo a fama da “atriz de verdade” correu à pequena Falls. Moradores faziam fila para falar com ela e perguntar sobre como era contracenar com os atores mais conhecidos do Reino Unido. Todo esse alvoroço causou ciúmes em Anne, renegada agora a segundo posto no coração – e admiração - dos moradores da cidade.

Tudo ficaria ainda pior quando Anne soube que a prefeitura faria uma montagem de Romeu e Julieta na cidade e que Alice havia sido escalada para o papel principal, enquanto ela ganhara um papel pra lá de secundário.

Irritada, Anne foi conversar diretamente com o prefeito, questionando-o do porque da troca de protagonista, uma vez que ela era a “prata da casa” e que suas atuações sempre bastaram à cidade.

O prefeito, constrangido, disse que a escalação de Alice era para dar “um peso maior” àquela peça, uma vez que havia o boato que o governador poderia vir ao teatro da cidade assisti-la. As palavras “peso maior” ficaram martelando na cabeça de Anne, que sentiu seu sangue ferver de ódio e ciúme.

Decidida a não desistir tão facilmente do papel de Julieta, Anne propôs ao prefeito uma espécie de duelo pelo papel da mocinha. Vendo ali a possibilidade de arrecadar uns trocados a mais, o mandatário da cidade adotou a idéia e marcou para quinze dias depois a disputa. Alice, e depois Anne, fariam a mesma cena, e o povo decidiria à base de aplausos quem ficaria com o papel principal.

Enquanto Anne e seu partner ensaiavam intensamente, Alice sequer havia lido o roteiro. A tranqüilidade da rival só aumentava a tensão de Markin que decidiu que devia tomar medidas drásticas para vencer.

No dia das apresentações, Alice e seu parceiro de cena encenaram o ato final de Romeu e Julieta, emocionando o público que aplaudiu efusivamente. Na vez de Anne, ela e seu parceiro fizeram uma cena belíssima, quase real. Suas expressões na hora em que tomaram o veneno foram tão verossímeis que não houve dúvida: Anne vencerá o duelo!

Contudo a demora em ambos os atores se levantarem causou estranheza. Após algum tempo a notícia veio à tona. O veneno que eles tomaram era real.


O pobre ator não sabia deste pequeno "detalhe", mas Anne sim. Momentos antes de morrer, Anne deu um sorriso, certa que iria vencer, e seu último pensamento foi: “Não tem pra Alice, não tem pra ninguém... Eu sou a maior e melhor atriz de Station Falls”. É. Vale tudo pela arte...

CONTO 'RATÓPOLIS'


RATÓPOLIS

O regime de governo de Ratópolis sempre fora rígido, contudo após a possibilidade da guerra com a Gatolândia tudo atingira níveis alarmantes. Havia apreensão nas ruas e a possibilidade de o estouro de um confronto era iminente. 

O presidente, um estrangeiro, era visto o tempo todo com desconfiança. Terry Primeiro vivia sua maior crise de popularidade e nem seu slogan clássico “Super Mouse é seu amigo... Vai salvá-lo do perigo...” o segurava nas pesquisas.

Ter um ex herói (Terry, já velho, tinha quatro anos) significou, a princípio, a possibilidade da retomada do crescimento de Ratópolis, mesmo que um camundongo (e não um rato “puro”) fosse o governante. Mas era claro que a cada crise o fato do presidente ser um “roedor mestiço” vinha à lembrança.

Ainda mais agora que Terry havia elegido seu amigo de longa data o mexicano Ligeirinho como seu líder na câmara, renegando a segundo plano Jerry, favorito ao cargo, e que havia perdido a última eleição exatamente para Terry por ser “extravagante demais” segundo os eleitores.

Tudo ganhava contornos dramáticos, pois Ligeirinho era, paradoxalmente, muito lento em suas decisões o que deixava a população apreensiva quanto às táticas de defesa quanto à possibilidade de um ataque de Gatolândia.

Isso fez com que Jerry passasse a liderar uma campanha declarada a favor do impeachment de Terry. O senador tinha o apoio dos cineastas Pink e Cérebro (que haviam acabado de ganhar o ‘Rato de Ouro’ pelo filme “A crise de uma ratoeira só para um”) e do mais famoso apresentador de TV do país, o incrível Coçadinha. O treinador Splinter, o piloto herói de guerra Stuart Little e até o chefe número um de restaurante de Ratópolis Monsieur Ratatouille apoiavam a idéia.

Encurralado, o presidente Super Mouse sentia-se preso numa ratoeira (a qual tentou por três vezes mudar o nome para “camundongadeira”, sem sucesso) e então decidiu tomar medidas desesperadas. Não havia jeito. O jeito era apelar para um conterrâneo, alguém que não era visto com bons olhos pelo povo de Ratópolis, mas que era o único que podia resolver a situação. Presidente Terry pegou o ratofone e discou 555 Hollywood. Sim. Mickey Mouse estava a caminho.

Mickey era visto com péssimos olhos pelo povo de Ratópolis, pois significava “o sucesso mundial de uma raça menor que não deveria sequer existir, quanto mais virar tema de parque de diversões”.

Contudo ele era o único com acesso liberado em Dog City, Patomundo, Insetolândia e até em Gatolândia. Sua disponibilidade de viajar aos mais variados destinos sem ser incomodado foi decisivo para a sua escolha para tal elaborada missão.

A motivação de Mickey para entrar de cabeça e cauda na missão era a liberdade de sua ex namorada, Minnie, presa por tentar sabotar o governo de Ratópolis (a roedora havia se tornado uma guerrilheira) no governo que antecedeu o de Terry.

Mickey, contudo, não queria ir a Dog City, Patomundo, Insetolândia e nem a Gatolândia. Seus planos eram maiores. Mickey queria ir a Cocacola City, invadir o local, e se por lá dentro como agente, literalmente, infiltrado.   

O rato, ops, camundongo, invadiu o local com o intuito de conseguir descobrir, finalmente a fórmula mágica da beberagem número daquele país e, à base de chantagem, conseguir apoio bélico para a possível guerra contra o país dos gatos.

Porém Mickey teve um difícil confronto contra Sarney, um rato vigilante de Cocacola City. A atuação de Sarney fora decisiva para que Mickey não conseguisse a fórmula, contudo, após sangrenta luta, o roedor da Disney prendeu o rato oponente dentro de um castelo (conhecido no mundo dos humanos como garrafa), deixando-o lá.

O que Mickey não esperava era que a repercussão de Sarney preso no castelo atingissem os níveis que atingiram. A fama foi tão grande que tal ação atraiu atenção especial do mundo (e de todos os animais) à população de Ratópolis, fazendo com que quaisquer intenções de guerra dos soldados de Gatolândia fossem suspensas até que a poeira (e o foco) saísse dos ratos.

Satisfeitas com a paz, e com as finanças indo de vento em popa, pois os enfeites e produtos relacionados a ratos tiveram subida vertiginosa, a população de Ratópolis voltou a apoiar o seu mestiço presidente que, por sua vez, deu férias com tudo o que tinha direito, em Cheeselopolis, a Mickey e Minnie.


Contudo, boatos dizem que são agora os figurões de Cocacola City que querem os serviços de Mickey. Dizem, à boca pequena, que eles estão planejando uma invasão a Pepsilândia para colocar não um, mas dois agentes dentro de uma latinha de bebida, algo como “não queira levar um, mas leve dois”. Enfim... Aguardemos... Política é realmente um ninho de ratos.