domingo, 10 de janeiro de 2016

BOAS VINDAS: NASCE UM PAI. TEXTO ESCRITO

Elaine assistia, dia sim, outro também, o programa 'Boas Vindas' do canal a cabo GNT. A atração conta a estória de vários partos, normal ou cesariana, sob a perspectiva dos pais. Após a descoberta da gravidez, tal hábito se tornou ainda mais rotineiro. Decidi que, após o nascimento da nova integrante da família Góes-Bahiense, eu também faria o meu relato, escrito, claro, pois não fico tão bem na TV... Com vocês, boas vindas: nasce um pai.



Dia 30/12, 05:00 da manhã

O meu relato será uma espécie de diário de bordo/relato conselho. O intuito é informar e entreter não nessa ordem. Digo isso porque Elaine e eu discutíamos quase todo dia sobre os meandros da gravidez e do parto. Logo, eu estava craque no assunto. Sugiro a todos os papais que por ventura venham a ler esse relato façam o mesmo. Foi de grande valia.

Imagino a ansiedade de Elaine em esperar até as 09 da manhã para me contar que havia se "rompido o tampão", termo utilizado para explicar que o colo do útero começou a abrir e que o trabalho de parto começara.

Daí até o nascimento em si é um longo caminho. Longo mesmo. O que explica a minha decisão de... continuar dormindo. Pensei em poupar energia para o restante do dia onde, se esperava, as fases importantes começariam. Por fim eu estava certo apesar de parecer meio frio e desinteressado em um primeiro momento.

As contrações começaram levemente a tarde, período em que a doula de Elaine (doula é a profissional que acompanha a gravidez e o parto, com o intuito de amparar e aconselhar a gestante) chegou. Helena começou a contar o tempo das contrações e, vendo que elas estavam espaçadas demais, começou a induzi-las com chás e exercícios (em especial a mulher ficar sentada, quicando, em cima de uma grande bola).

As contrações aumentaram na madrugada, quando fomos ao hospital. Lá, contudo, o plantonista afirmou que o colo do útero pouco se abrira e que devíamos voltar depois. Fomos para casa. Elaine quicava enquanto eu cantava 'With or without you' do U2 (passava um especial da banda na Globo). Por fim, em dado momento, eu e a doula pegamos no sono, enquanto a futura mamãe permanecia no exercício.

Amanheceu e as contrações continuavam espaçadas. Daí ligamos para o médico que acompanhou toda a gravidez de Elaine. Ele sugeriu que fôssemos a tarde para uma nova avaliação. Assim foi.



Dia 31/12. 15:00 horas

O que é uma doula? Pergunta dos atendentes da madrugada e da tarde do hospital onde fomos. Fico impressionado com a falta de conhecimento/profissionalismo de tais. Helena foi impedida de entrar comigo e com Elaine para a avaliação. Eu e a futura mamãe fomos sozinhos.

Entramos e a médica mal nos olhou. Sentamos. A doutora, mesmo percebendo as contrações de Elaine, ficou mexendo no celular. Depois, acreditem, ligou para o irmão sugerindo que ele pedisse um desconto em um presente... E Elaine com contrações. Para quem nunca as teve é algo como cólicas fortes, extremamente incômodas. Menos para a doutora, pareceu-me. 

Quem me conhece sabe que não sou de muita paciência. Xinguei-a internamente e minha vontade era de ir embora naquela hora. Mas, era dia 31/12, a poucas horas do reveillón... Com certeza não estava chovendo médicos. Daí me contive.

Neste ínterim, o nosso médico estava ligando para ela. Quando viu suas chamadas ela retornou, afirmando que não havia nenhuma "Eliane" consultando. Quando desligou, contudo, após contarmos que a Eliane era a Elaine que estava sentada a mais de vinte minutos à sua frente, a médica simplesmente mudou o tom. Antes de mais nada vale informar: O nosso médico é chefe da obstetrícia do hospital, logo, "chefe" dela. 

Na mesma hora seu temperamento e a atenção para com a gente. Fez os exames. Elaine ainda estava com pouca dilatação. Mas a médica, depois, nos pôs a desesperar afirmando que o tempo de gestação de Elaine estava longo (41 semanas) e que ela estava "velha" para ter neném, logo era melhor adiantar o processo. 

Por sorte, e esclarecimento, estávamos bem informados acerca destas místicas médicas quanto a parto e não caímos na conversa fiada da doutora, mas admito, nos preocupamos. Com isso decidimos, então, que pagaríamos a disponibilidade de nosso médico, para que o parto fosse feito do jeito que queríamos. Foi um dinheiro grosso, admito, mas muito bem gasto, afinal eram duas vidas em jogo.

Por telefone nosso médico disse que o parto demoraria pelo menos mais 18 horas. Para isso sugeriu que Helena fosse para casa, curtir o reveillón em sua igreja, e que eu Elaine fizéssemos o mesmo. Passamos o meia noite vendo o insosso 'Show da Virada' da Globo ao som de "99% perfeito, mas 1% vagabundo", "é só você fazer assim... que eu volto..." e afins.



Dia 01/01/2016 as 03:00 da madrugada

A previsão do médico furou. Na madrugada as contrações vieram mais fortes e ritmadas. Aguentamos até a manhã. E as 10:30 horas Helena, eu e, claro, Elaine, voltamos ao hospital. Lá, martelo batido, o evento começara.

Havíamos decidido que todo o evento do parto seria natural, sem anestesias e indutores e que Laura nasceria, se possível, de parto normal. Contudo, como Elaine estava com pouca dilatação, um indutor foi aplicado, aumentando as contrações e, especialmente, as dores.

♪♪♪ Pra você guardei o amor... Que nunca soube dar... O amor que tive e vi sem me deixar... Sentir sem conseguir provar... Sem entregar... E repartir... ♪♪♪

Essa é a música tema do Boas Vindas. O programa, editado, traz os "melhores momentos" do parto, com o nenemzinho nascendo, depois de um trabalho de parto de uns 5 minutos no máximo dado o tempo de duração do programa, ao som de Nando Reis. Tudo é muito bonito e quase tranquilo. Na TV...

Porque na vida real... Diria que a trilha adequada seria heavy metal, um Sepultura ou Motorhead dos mais barulhentos. Elaine se transformou. Gritou com eu nunca havia ouvido, me apertou, mordeu... Mas resistiu bravamente por cinco horas.

Neste período sentou na famigerada bola, usou a barra, recusou o chocolate importado do médico por um Bis... Usou a piscina... Suplicou dezenas de vezes para que aprovasse a analgesia...

Eu me mantive firme, apesar da pena enorme que estava dela. Não fosse seu pedido anterior de ir até seu limite, eu já tinha pedido a anestesia a muito tempo. O médico e a doula, para minha irritação, quietos ficavam, me deixando com a "rabuda" de conter Elaine seus gritos, apertos e dores.

Dia 01/01/2016 as 20:24 horas

As sete da noite, contudo, optamos que ela tinha chegado a seu limite. Elaine tomou a anestesia. Uma hora depois o trabalho de parto recomeçou. E em 24 minutos nascia Laura, de parto normal, sem trilha de Nando Reis, sem edição de vídeo, mas muito mais emocionante do que qualquer outra coisa no mundo.

Sem dúvida o grande momento da minha vida!

Como praxe é o pai que acompanha os primeiros momentos do bebê. Eu que fui com Laura para os primeiros exames, pesagem e limpeza. Eu que escolhi a primeira roupinha. Em virtude da anestesia, Elaine ficou mais alguns minutos no centro cirúrgico, enquanto Laura, por estar saudabilíssima, veio para o quarto. Preciso dizer que rezei todas as orações que sabia para o neném não chorar? Por sorte ela ficou super calminha, de olhos abertos, olhando para mim, esperando a mamãe, de boa...

Dia 02/01/2016 as 00:00

"As três primeiras noites, são as piores". Foi o que ouvimos de todos sobre o temido choro do neném. Fato! Como o leite materno, com todas as suas propriedades naturais, só se forma no terceiro dia, o bebê, mesmo mamando constantemente, não se sasseia. Junta-se a isso uma pegada errada no seio da mamãe que acaba ferindo e pronto: Choro, choro e mais choro. A noite inteira. Por fim é melhor entregar pra Deus e torcer para passar logo.



Dia 04/01/2016 as 02:00

Elaine é alérgica a vários medicamentos, inclusive um que foi erroneamente receitado pelo médico. Quando ela tomou começou a inchar instantaneamente. Corremos na farmácia de madrugada atrás de anti alérgicos. A mamãe acabou debilitada, sonolenta. Logo nos primeiros dias do bebê.

Na mesma noite Laura golfou. Foi limpa. Depois voltou a dormir. Na hora de seu banho, contudo, manteve-se estranhamente quieta. Logo, foi ficando mole e não respondia a nossos chamados. Pânico. Corremos para o hospital. O quadro? Um simples engasgo. Que poderia ser resolvido facilmente com tapinhas nas costas, mas que pais de primeira viagem não sabiam. 

Por fim este que vos escreve passou o resto da sorte vigiando Laura e Elaine dormirem, vendo se ambas estavam respirando. Longa noite...

Hoje

Uma semana se passou. O neném ainda chora a noite, mas bem menos. Tiramos milhares de fotos, recebemos centenas de visitas... Não tivemos mais sustos... 

Cada um é cada um. Mas, olha, ser pai foi, disparado, a coisa mais sensacional da minha vida! Indico. 

Meu Nando Reis não tocou na hora do parto, mas toca toda hora no meu coração, pois foi pra Laura que "guardei o amor que antes nunca soube dar"....