Lula era a última esperança de dignidade e decência na política num país desolado e devastado pela desesperança de encontrarmos políticos honestos, corretos e que realmente se importassem com o povo. Quando eleito em 2002 Lula era, sem exageros, uma espécie de "enviado do céu", literalmente como "nossa última chance".
A origem humilde, o carisma absurdo, e a afeição pelas coisas mais populares (torcer pro Corinthians, tomar cachaça, jogar futebol na Granja do Torto...) fizeram de Lula uma espécie de "político super star". Figura capaz de mobilizar a população a seu favor sem muito esforço.
É claro que a esperança de decência política de Lula também contava. Incorruptível, acima de qualquer suspeita, pai do povo, e lutador pela dignidade na política, Lula era visto como o super homem que combateria finalmente - e de verdade - a corrupção no Brasil.
Toda a atmosfera criada foi caindo, aos poucos, por terra. Zé Dirceu, Palocci, mensalão, união a José Sarney... Tudo foi minando a até então aura de intocado de Lula. Logo o incorruptivel não era tão incorruptivel assim.
Brilhantemente Lula mascarou seus graves erros de conduta política com uma enxurrada de pacotes extremamente populistas. Com isso as bolsas assistencialistas, as cotas para tudo - e todos - nas universidades e a copa do mundo e as olimpíadas, trataram rapidinho de reconquistar um público que, me atrevo a dizer, sequer havia sido perdido. Lula era, ainda, um enviado dos céus.
O brasileiro mostrou uma faceta até então ignorada em grande parte de sua história que é a gratidão. Gratidão por algumas coisas que nem nós sabemos bem porque e de que, mas que ficamos gratos. E assim, mesmo com vários casos de escandalo num governo em que o PT jurava que seria 100% transparente, Lula terminou seu segundo mandato como o mais popular de "todos os tempos neste país" frase que adorava falar. Dilma, sua afilhada, venceu graças a popularidade de Lula e vem governando sem atropelos.
A esperança de termos uma figura acima de qualquer suspeita para bater no peito e falar para os nossos netos caiu por terra hoje. Lula se aliou a Paulo Maluf. Sim Maluf! Um dos maiores escroques da política brasileira. Tudo por causa de, talvez, uns cinco minutos a mais na propaganda eleitoral na TV.
Talvez ele esteja apostando numa fórmula que vem dando certo que é a soma da eterna gratidão do povo + a eterna mania de esquecer as coisas que o brasileiro tem. Quer saber pode dar certo? Sabe porque? Aposto que você que está lendo este artigo concordou com tudo que eu disse, inclusive que hoje, ao aliar-se a Maluf, Lula estaria manchando sua história não é? Mas vocês deveriam lembrar que foi o mesmo Lula que se aliou a Brizola, Zé Dirceu, Collor e Sarney. A história do ex-metalúrgico, ex-barbudo e ex-honesto já tinha sido manchada a muito tempo...
O sonho acabou, mas não foi hoje, foi a muito, muito tempo atrás...