quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

CRÔNICA 'DE VOLTA A QUINTA SÉRIE'


Crônica 'De Volta a Quinta Série'

Já trabalho com educação há algum tempo, invariavelmente lecionando para o ensino médio ou para os oitavos e nonos anos do ensino fundamental. Ou seja, até então lidava com uma turminha um pouco mais velha da qual, nada modestamente admito, consigo transitar bem.

Neste ano fui designado para dar aula para o sexto ano (quinta série). Turminha dos seus 10, 11 anos. Foi um choque. Lidar com a meninadinha é bem diferente e requer ainda mais tato no trato. 

Bagunceiros, mas amáveis, acabei por acostumar com eles. Foi aí que em um raro momento de silêncio deles, me pus a pensar e a lembrar de quando eu era da quinta série e, caramba, quantas memórias vieram a minha cabeça.

Me lembro como se fosse hoje. 

Tudo era muito grandioso. Pomposo. Assustador. E o engraçado é que eu estudaria na mesma escola e basicamente com os mesmos colegas. Ir a tarde me dava a boiada de não ter de acordar cedo (o que sempre odiei) e só isso era que me fazia ficar menos apreensivo.

Ser da turma mais nova da escola é um terror. A gente imagina mil coisas que, no final das contas não acontecem. Um ou outro moleque mais velho botava um terrorzinho aqui e outro acolá, mas nada que tomasse o ano todo. Ainda assim a gente vivia apreensivo, como se algo grave fosse acontecer a qualquer momento.

A relação com os professores também era esquisita, pois eles eram menos, digamos, amorosos, dos que os dos anos anteriores. A relação era mais "profissional" sabe? Eu sempre gostei de ser o queridinho da professora, mas não conseguia manter esse expediente no quinto ano, pois, com nove pessoas diferentes, a gente acaba sendo querido por um e preterido por outro. 

Os alunos bagunceiros tinham um status absurdo. Pra mim eram quase como seres intocáveis. Quando um deles falava comigo eu normalmente agia de forma idiota tamanho o lisonjeio de interagir com as feras. 

E a líbido? A gente começa a ter as primeiras interações amorosas nessa época.  Me lembro de ter uma paixãozinha naquele tempo. A menina nem era a mais bonita da sala, mas eu gostava dela, pois a garota era muito legal comigo. Mas o xodó dos meninos mesmo era uma loirinha, realmente linda e muito expansiva.

Me lembro de um dia em que ela me pediu para copiar meu dever de matemática. Eu obviamente deixei, claro. Todos os meninos olharam pra mim com aquele olhar de inveja e estranhamento. Me senti o maior galã do mundo naquele dia. Depois disso, se a memória não me falha, ela não trocou mais nem uma palavra comigo. Mas não tinha problema: Tinha sempre o dia do exercício de matemática para me lembrar.

A educação física também era engraçada. Jogávamos bola como se estivéssemos na final da Copa do Mundo. Me recordo de como eu me doava nos jogos (normalmente um 5 X 5) e ganhar ou perder era questão de morte. Voltava pra sala molhado de suor e fedendo como nunca na vida. Nessa época a gente começa a sofrer com as mudanças corporais e eu fedia bastante, admito. Eu passava creme contra chulé, pomada contra cecê e, claro, muito antitranspirante. Adiantava? Nada!

As amizades, caramba, as amizades. Me lembro de dois ou três moleques que, juro, eu achei que seriam meus amigos o resto da vida. O engraçado é que troquei de turminha umas quatro ou cinco vezes no ano, e sempre que trocava achava que os caras seriam os meus best friends forevers

Ter sido o único a ter assistido o mítico episódio final do Jaspion (ok inimigos, agora vocês sabem, sou velho pra cacete!) me deu um status de super star por quase um mês. Repetia o roteiro do episódio à exaustão. Eu nem ligava ter de repetir, pois achava o máximo. Me sentia O Jaspion praticamente. 

Consegui passar aquele ano sem pagar nenhum mico (me lembro de um menino que fez xixi nas calças e este episódio foi o único não esquecido por ninguém durante o ano), fruto de um severo monitoramento pessoal. 

Aquele ano foi doido... Quantas coisas... Ah quinta série... Caramba, a quinta série....!!!....  

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