Pose de playboy. Áurea de santo e moderno. Me enganou direitinho.
Eu tinha 10 para 11 anos. Era 1989. Depois de 20 anos os brasileiros voltavam a ter o direito de escolher seu presidente através do voto. O país, mergulhado em imensa crise financeira, vivia, por isso, uma febre de otimismo. O Brasil poderia realmente ser o país do futuro.
Eu, um menino pobre de uma família humilde, vivia como outro qualquer menino da classe C da época. Carne só nos fins de semana. Leite, de vez em quando. Cultura, quase nunca. E muita TV, o tempo todo.
Política era algo escasso nos debates na minha casa. Papai era pouco politizado, apesar de interessado. Minha tia já era engajada, mas se expressava através de jargões políticos que eu não entendia e, no mais, oras, eu só tinha 11 anos.
As eleições de 89 se configuraram como um duelo mano a mano entre Lula e Collor. Lula, na minha visão de guri, era um "macaco falante" (por favor não confundam com racismo nem nada do tipo, por favor), principalmente impulsionado pelas falas de papai que assim o chamava (obviamente em alusão à barba e a pouca cultura). Já Collor era quase um enviado dos céus. Um supra sumo daquilo que a gente queria ser, mas não era (culto, bonito, elegante, de fala fina e convicta). Eu, influenciado por papai, claro, era Collor até morrer. Torcia mais pelo Mauricinho do que pelo Fluminense na época, acho.
Debate entre Collor e Lula
Minha tia (aquela politizada) era Lulista até a morte. As discussões entre ela e papai eram ótimas! Eu queria ajudar papai, mas não sabia como, afinal era só um guri bobo. Como sabemos Collor venceu a eleição e eu fiquei muito feliz. Como toda criança (e, cá pra nós, como todo brasileiro adulto também), me "desinflamei" após a vitória de Collor e deixei pra lá as coisas de política. O que acontecia no país não era mais interesse meu, até...
Até aparecer um certo PC Farias. As acusações sobre o meu herói (que eu não sabia o que fazia, mas era meu herói) foram terríveis pra mim. Uma punhalada. Sem dúvida a maior decepção com coisas mais amplas que tive até então. Acusações incontestes. Mas papai mantinha a fé em Collor. Eu não.
Já com 13 anos busquei informações. Corri atrás. Perguntei aos mais velhos. Lia jornais... Dessa vez não quis ficar tão alienado quanto antes. Em meu julgamento pessoal o taxei como culpado. Todo processo de impeachment foi triste pra mim. Não fui às ruas. Porque não queria e porque sabia que 90% de quem tava ali nem sabia porque estava protestando e aquilo me irritava.
O dia capital foi a votação na câmara pela cassação do mandato de Collor, "coincidentemente" às vésperas das eleições municipais. Me lembro como se fosse hoje as palavras de Aloísio Santos "... por Cariacica, pelo Brasil..." e de Paulo Hartung "...por Vitória, pelo Brasil...". Oras. Era obvio que o importante era fazer uma grande média com seus eleitores e o país, ah o país, ficava em segundo plano. Pouco importava se estavam retirando Collor, Lula ou Mickey Mouse, o importante era fazer média.
Cena ridícula dos deputados comemorando a cassação. Até aparece que tiveram um surto de patriotismo. Sei.
Escrevi isso numa redação. Tirei "dez com louvor". Fui o único com essa visão. Que triste. Mas sabe o que foi mais triste? Fui o único com essa visão. E eu era criança...
Link com a reportagem do Fantástico (Fantástico?) com a Rosane Collor
Sandro você é ótimo cara.
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